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Ananindeua recebe mostra de cinema indígena com produções audiovisuais e debate sobre identidade e resistência
Por Jade Palheta (FPM)
Projeto Mostra Itinerante de Cinema Indígena – “Jenipapo na Tela contra o Preconceito” na entrega de Certificados. O Parque Vila Maguary, em Ananindeua, recebeu na noite do último sábado, (27), a etapa final do Projeto Mostra Itinerante de Cinema Indígena – “Jenipapo na Tela contra o Preconceito”, reunindo exibições de documentários, curta-metragem, debate com realizadores, entrega de certificados e momentos de valorização cultural e educativa.
A programação teve início com a exibição dos documentários produzidos pelos alunos da Oficina de Introdução à Produção Audiovisual – Cinema Documentário no Celular, resultado de um processo formativo que incentivou o uso do audiovisual como ferramenta de expressão social, cultural e política.
Produções autorais e olhares sobre território, cultura e ressocialização
Entre os documentários exibidos estiveram:
“Fala Max”, que retrata a relação de cuidado e pertencimento de Max com a praia onde mora;
“Jorge Black – O Peso do Reggae”, que apresenta a trajetória de um pesquisador da música jamaicana em São Luís (MA);
“Entre Grades e Horizontes: Educação em Cadeia”, que aborda a educação como caminho de ressocialização para pessoas privadas de liberdade;
“Abacatal 315: Caminhos da Resistência”, documentário que destaca a luta e a resistência do Quilombo do Abacatal, localizado em Ananindeua.
As produções evidenciaram a diversidade de temas e narrativas, reforçando o papel do cinema como instrumento de reflexão social e fortalecimento das identidades locais.
Suellen Cardias, roteirista do curta Entre Grades e Horizontes: Educação em Cadeia.“Quando eu vi a atividade, eu disse para a minha família: ‘Olha! Vamos nos inscrever’. Porque a gente sabe que, para continuar mantendo esses espaços no nosso município, a gente precisa de público (...) E foi algo muito novo, porque não tínhamos nenhuma experiência com filmagem, fotos… aquelas fotos ficavam guardadas no celular, e não sabíamos o que fazer com elas. E aí a gente veio de peito aberto. Então, a partir dessa experiência, nós criamos o roteiro, porque nada é aleatório; aprendemos a fazer a conexão das falas… Então, ficou um gostinho de ‘quero mais’, porque agora dá vontade de mostrar outras experiências, do nosso ponto de vista, para o público”, disse Suellen Cardias, roteirista do curta Entre Grades e Horizontes: Educação em Cadeia.
Bianca Cardoso, roteirista e produtora executiva do curta ″Abacatal 315: Caminhos da Resistência″.Para Bianca Cardoso, roteirista e produtora executiva do curta "Abacatal 315: Caminhos da Resistência", a oportunidade de produzir um curta em sua comunidade simboliza identidade e reconhecimento.
“A princípio, íamos gravar só no dia 20 de novembro, mas não deu para ser só o dia 20 de novembro, não deu para ser só a luta da juventude, não deu para ser só a história do meu avô, porque eu acho que tudo o que aparece ali é Abacatal, porque não dava para falar só do caminho das pedras sem falar da história do meu avô (...). Muitas pessoas, quando eu falo que moro em uma comunidade, demonstram rejeição, e eu não vi isso no meu grupo, mas eu quis falar mesmo o que é, o que foi e o que está sendo o Abacatal.”, completou Bianca Cardoso.
Curta ″Quem Quer?″.Exibição especial e debate com realizadores indígenas
Célia Maracajá, diretora do curta “Quem Quer?”.Dando continuidade à programação, o público acompanhou a exibição especial do curta-metragem “Quem Quer?”, dirigido por Célia Maracajá e roteirizado por Poraquê Munduruku. Após a sessão, foi realizado um debate aberto, no qual os realizadores compartilharam reflexões sobre identidade indígena, território, representatividade e o enfrentamento ao preconceito por meio do audiovisual.
“Fico muito grata pelo convite e parabéns aos novos cineastas que se formaram hoje (...), O Festival Etnográfico é um espaço de identificação e representatividade, então precisamos falar sobre esses espaços de representatividade, e eu queria também saudar a todos os parentes que estão aqui. Essa parceria com o Poraquê foi um encontro, ele é um camarada muito criativo, ele foi escrevendo o roteiro, escrevendo o projeto… e deu certo”, completa Célia Maracajá, diretora do curta “Quem Quer?”.
Roteirista, Poraquê Munduruku.Para o roteirista Poraquê Munduruku, o curta demonstra o quanto a ancestralidade indígena ainda é invisibilizada no país e reforça a luta como indígena em retomada no contexto urbano.
“Eu sou uma pessoa indígena em retomada, e isso muitas pessoas podem não entender, mas por muito tempo eu não me identifiquei assim; eu era um homem pardo que sabia que tinha uma ancestralidade indígena (...) e esse filme tem a ver com tudo isso”, disse o roteirista Poraquê Munduruku.
Valorização cultural e reconhecimento
Isa Muria, artista visual indígena.Durante o evento, também foi realizada uma saudação especial aos indígenas presentes, Isa Muria e Miguel Tenetehara, em reconhecimento à importância da presença indígena viva e atuante nos espaços culturais e educativos. Em seguida, os atores do curta “Quem Quer?” foram convidados ao palco para uma saudação ao público.
A programação foi encerrada com a entrega dos certificados aos participantes da oficina audiovisual, marcando o fim do ciclo formativo do projeto e reforçando o compromisso com a formação cultural, a democratização do acesso ao cinema e a promoção da diversidade.
A Mostra Itinerante reafirma Ananindeua como um território que valoriza a cultura, o diálogo intercultural e as políticas públicas voltadas à inclusão, à educação e à valorização dos povos indígenas e comunidades tradicionais.
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